Uísque caiçara

Rei da cachaça de cataia de Curitiba anuncia aposentadoria após 30 anos de tradição

Imagem mostra uma garrafa e uma taça servida com cachaça de cataia. Ao fundo está o criador.
Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

O rei da cachaça de cataia de Curitiba vai se aposentar no fim do ano. Depois de mais de 30 anos produzindo e comercializando a bebida popularmente conhecida como “uísque caiçara”, Gilson Wippel, decidiu fechar as torneiras das barricas sas que tanto jorrou conhecimento e felicidade aos clientes.

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Gilson é proprietário do Restaurante Buccanner, no bairro Santa Cândida, há 32 anos. Apaixonado por cutelaria e pescaria, fez no começo da década de 1990, uma viagem para Cananéia, litoral de São Paulo. O local é considerado uma das últimas áreas intocadas da costa brasileira, com remanescentes da Mata Atlântica. A cidade também é um dos maiores berçários de vida marinha do planeta.

Foi nessa aventura ao lado de amigos que experimentou a cachaça de cataia. O nome cataia vem do tupi e quer dizer “Folha que queima”. A bebida é feita da folha da cataia, que quando submersa na cachaça reduz drasticamente a acidez, fazendo com que a bebida fique saborosa.

Segundo histórias locais, a bebida originou-se na comunidade de Barra do Ararapira, divisa entre litoral sul paulista e norte paranaense em 1985, quando seu Rubens Muniz resolveu misturar as folhas de cataia, originalmente utilizada na comunidade como chá ou erva anestésica, com cachaça. A partir daí a fama da bebida se espalhou pelas redondezas, sendo utilizada pelos pescadores em dias de frio e também por turistas.

“Tomei a cachaça com os nativos. Eu gostei do sabor, mas eles usavam uma aguardente ruim. Falava-se que era para usar um produto não muito bom, e fiquei com aquilo na cabeça. Comecei a procurar cachaças boas de alambiques, e mostrei que pode ser feito com bons ingredientes. Deu certo”, disse o coxa-branca Gilson, que compra a aguardente em São João do Itaperiu, próximo de Barra Velha, em Santa Catarina, no alambique de alemães, a Momm.

Com pesquisas e muitas tentativas para qualificar a bebida, o curitibano percebeu que a cachaça de cataia poderia render uns troquinhos com a venda em maior quantidade. Trocou os garrafões antigos por um verdadeiro “Maracanã” do gole. “Eu não tinha barricas, fazia a fusão em garrafões. A demanda já aumentava, comprei cinco barricas no alambique dos Monn. Nessa brincadeira, comecei a vender todo dia”, relatou Gilson.

A cataia tem inúmeros benefícios, entre eles alivia a gripe, azia, diarreia, dor de estômago, problemas digestivos e ainda pode ser usada para cicatrizar feridas devido ao efeito antisséptico

Barricas de carvalho feitas na França

As barricas de 200 litros são de carvalho e produzidas na França. Gilson acredita que elas foram feitas há mais de 100 anos. Para fazer a cachaça, coloca-se a planta de cataia, cachaça e um ingrediente “meio secreto” por um ano. “Deixa curtida por um ano, não dá para reduzir esse tempo. Pega o gosto do carvalho, fica suave, mas precisa tomar cuidado.  Precisa tomar com muita moderação, pois quando pega, derruba a pessoa”, avisou o fabricante que traz a planta de Cananéia, onde tudo começou.

Quanto ao segredo, Gilson deu a dica que pode ser o mel como ponto importante para deixar a cachaça de cataia perfeita para o consumo. “Não é fácil acertar, a mistura precisa ser exata, não pode ser forte porque amarga, e fraca não fica bom né? Fico feliz que a minha cachaça já foi para vários lugares do Mundo, as pessoas levaram para o Chile, Estados Unidos, Peru e França”, completou o Rei da Cachaça de Cataia de Curitiba.

O substituto do Rei da Cataia?

Com o fim do restaurante e local da fabricação da cachaça de cataia, Gilson vendeu quatro barricas. O motivo para fechar a torneira é que o comerciante deseja descansar e aproveitar a família.

Duas barricas já estão com o Carlos Sidney Filho, 34 anos, o Sid, no Bar Nosso Boteco, no Boa Vista. Aliás, uma delas já decora o espaço com elegância e robustez.

“Tenho conhecimento do Gilson desde guri, quando ouvia meu pai e seus amigos dizendo onde comprariam cachaça de cataia. Nos últimos anos, comecei a frequentar o restaurante do Gilson com minha família e estreitamos a amizade. Até que esses dias, perguntei se ele sabia onde comprava um barril de carvalho igual ao que ele tinha para curtir e preparar a cataia. Sempre muito gentil, disse disponibilizaria os seus barris e ensinou todo o modo de preparo do “whisky Caiçara“. Sou um irador da cultura da nossa região e seguirei curtindo a cataia do Sr. Gilson com muita alegria para que sua tradição não se acabe”, completou Sid.

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